Sim à Desordem
Lições Surpreendentes do Jazz para Líderes Contemporâneos
Frank Barrett
Editora Campus
Na
Livraria Cultura R$ 59,90
Trechos do livro
À primeira vista, este é um livro sobre improvisação no jazz. Entretanto,
poucos dos que estão lendo essas palavras agora são músicos; e muitos sequer
gostam de jazz - embora eu espere que uma consequência da leitura deste livro
(não tão intencionalmente) seja o maior apreço por esse gênero musical.
Trata-se, na realidade, de um livro sobre a mentalidade de liderança e os tipos
de atividades e habilidades que ajudam os líderes a entender e facilitar o
processo de inovação.
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Fiquei cada vez mais intrigado com a possibilidade de explorar a conexão
entre minhas duas paixões - jazz e comportamento organizacional. Em agosto de
1995, na Academy of Management, em Vancouver, British Columbia, fiz uma
parceria com Mary Jo Hatch para elaborar e facilitar uma sessão de palestras e
uma mesa-redonda sobre improvisação no jazz e complexidade organizacional.
Karl Weick fazia parte da mesa-redonda. Os artigos que eu e outros participantes
escrevemos para essa sessão foram publicados em uma edição especial do
periódico Organization Science, em
1998. Tanto a sessão de Vancouver quanto a edição especial da revista
alimentaram ainda mais meu interesse pela questão da improvisação nas organizações.
Comecei a me basear na improvisação no jazz como forma de entender criatividade
e inovação e desenvolvi módulos de educação executiva, utilizando a
improvisação como perspectiva para entender o aprendizado organizacional e a
inovação colaborativa. Fiquei surpreso com o interesse que isso gerou.
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As empresas poderiam muito bem começar a seguir a cartilha do jazz. Quando
as organizações ficam atoladas em uma concepção dominante, as pessoas ficam
aprisionadas em funções específicas, e o dinamismo se perde. Este capítulo
levanta a seguinte questão: Como os líderes empresariais podem seguir o exemplo
dos jazzistas, deliberadamente quebrando rotinas como forma de “desaprender”,
de se tornarem mais vivos, alertas e abertos a um horizonte de novas
possibilidades?
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Como as organizações podem prosperar em um mundo marcado por mudanças
aceleradas e pela incerteza? Ao desenvolver a capacidade de experimentar,
aprender e inovar - em suma, ao adotar a improvisação estratégica. O modelo que
envolve a improvisação coletiva de jazzistas constitui um exemplo claro e forte
de como as pessoas e equipes podem se coordenar, ser produtivas e criar
inovações surpreendentes, sem muitas das alavancas de controle das quais
dependiam os profissionais de gestão na Era Industrial. Um modelo
organizacional com base no improviso cria uma espécie de abertura, um convite à
possibilidade, em lugar de uma tendência às limitações do controle.
Este livro é um convite aos líderes, para que adotem uma abordagem sólida à
inovação, criem culturas vitais que estimulem a descoberta, em vez de seguirem
a limitada previsibilidade do mundo conhecido. É um convite para que rompam com
algumas das rígidas convenções que norteiam suas ações e experimentem transpor
a fronteira da certeza. Dizer "sim à desordem" nos desafia a criar
culturas, comunidades e organizações engajadas, apaixonadas e imaginativas, em
prol do progresso e do bem-estar de todo o sistema.
Os jazzistas buscam uma vida de receptividade radical. As demais pessoas
atingirão seu melhor desempenho se fizerem o mesmo - quando se abrirem para o
mundo, serão capazes de perceber horizontes de possibilidades cada vez maiores,
totalmente envolvidos em habilidosas atividades, e viverão em contextos que
exigem respostas que levam a novas descobertas. Como podemos nos organizar de
modo a permitir que as pessoas atinjam a excelência? Essa é a pergunta que
orienta a investigação subjacente a este livro.
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O paradoxo da improvisação
Diz a crença popular que os jazzistas são gênios ignorantes, que tocam
instrumentos como se estivessem apanhando as notas no ar. Entretanto, estudos
sobre jazz mostram que a arte é muito complexa - resultado da busca incessante de aprendizado e de imaginação
disciplinada. São a busca incessante e imaginação disciplinada, não a
genialidade em si, que permitem aos jazzistas improvisar - do latim improvisus, que significa
"imprevisto" -, e é a improvisação, que se tornou a marca registrada,
que define essa forma de arte.
Como os jazzistas aprendem a improvisar? Da mesma maneira que aprendi com
meu avô, e que os bebês aprendem a falar: ouvindo padrões, observando gestos,
repetindo e imitando. Os jazzistas formam um vocabulário de frases e padrões
imitando, repetindo e memorizando os solos e frases dos mestres, até se
tornarem parte de seu repertório de "licks", ou padrões melódicos.
Há uma ironia aqui, é claro. O objetivo da improvisação é ser consciente e
criativa, ter ideias imediatas que respondam ao que está acontecendo no
momento, mas o caminho até a adaptação consciente passa pela imitação, pois,
como o jazzista aprende, às vezes a única opção é recorrer aos padrões
aprendidos inconscientemente.
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Rompendo o silêncio
O melhor aprendizado organizacional envolve aceitar uma mentalidade em que
ocorre um rodízio entre os que solam e os que acompanham. Para isso, os líderes
precisam dominar a arte de liderar e de seguir, tal como os músicos de uma
banda de jazz. A simples prática do revezamento de papéis cria uma estrutura de
mutualidade que garante a participação, inclusão, propriedade compartilhada e
o diálogo organizacional, que podem levar à capacidade dinâmica nas
organizações, exatamente como no jazz. Alimentar essa mentalidade também
permite a expressão de novas ideias vindas de pessoas cujas vozes foram
tradicionalmente silenciadas.