No dia seguinte à sua posse
como presidente, Donald Trump desprezou o mínimo de inteligência do cidadão
comum americano, ao mandar sua assessoria afirmar que o povo nas ruas de
Washington na data de sua “coroação” era o dobro do mesmo evento na posse de Obama.
De nada adiantaram as imagens demonstrando o contrário. Trump e seus asseclas
insistem em uma “realidade que não existe”.
Curioso é que essa tremenda cara de pau - negação das obviedades -
ganhou um novo jargão na comunicação oficial do governo Trump: os Fatos
Alternativos.
Insistir em erguer um muro na
fronteira dos Estados Unidos com o México é uma atitude unilateral, fora do
contexto das relações internacionais e uma afronta ao país vizinho,
considerando os milhões de cidadãos americanos originários do México?
O “fato alternativo” é que, na
cabeça do bilionário, essa é a decisão certa, não importa a gritaria provocada.
Afinal, ele foi eleito com milhões de votos, com base em um rol de promessas
que, simplesmente, estão sendo cumpridas.
O senso comum, o espírito humanitário, as regras da geopolítica indicam
o contrário? Lixem-se essas opiniões, o
fato (alternativo) está criado. Os incomodados que se mudem.
Algum paralelo com a realidade
no Brasil? Sim, a começar com a idêntica
cara de pau dos políticos envolvidos nas denúncias da Operação Lava Jato e em
investigações similares. Doações via caixa 2 são condenáveis e passíveis de
punição legal? Ora, convenhamos, todos os partidos fazem isso e todo mundo
sabe. É, na verdade, um “fato
alternativo” que todos deveriam aceitar para a boa convivência entre a política
e a sociedade.
Se essa distorção da realidade
vingar, pode-se até perdoar as indústrias automobilísticas, que falsificaram
prontuários técnicos sobre a poluição provocada pelos automóveis. Organizações
podem falsear relatórios sobre os seus resultados? Vide o que aconteceu com a Petrobras, com a
negação de sua firma de auditoria em assinar os balanços atrasados (e altamente
polêmicos). E a nomenclatura da Odebrecht para a criação do seu “Departamento
de Operações Estruturadas”? Na verdade, escamoteando o superinteligente esquema
de corrupção implantado no Brasil e em vários países.
Moral
da história (o que mais falta nessas histórias é a honradez moral): Precisamos
cuidar, como profissionais de recursos humanos, que a moda dos “fatos
alternativos” não vire um escape para mascarar a realidade. Um exemplo: a
aplicação de pesquisas de clima (ou de engajamento) após o recebimento de bônus
para as chefias e demais lideranças da força de trabalho. Manipulação ou tentativa de disfarçar
insatisfações latentes, criando o “fato alternativo”, desta vez aplicado ao
mundo corporativo? Temos que zelar pela coerência de princípios e valores
organizacionais. Concordar com “fatos alternativos” não ajuda em nada essa
zeladoria.