O espantoso (e contagioso) crescimento de um sentimento universal: a
indiferença
Talvez demande muitos e
aprofundados estudos de especialistas em comportamento humano. E é bem provável
que boa parte das pessoas encontre justificativas racionais para negar a sua
evidência. Mas a verdade é que a indiferença vem ganhando de goleada o
campeonato mundial de atitudes do ser humano com relação às atrocidades e
desmandos desse início do século 21.
Essa constatação vale para
múltiplas dimensões de análise, nos planos geoeconômicos, políticos, sociais,
humanitários. Um exemplo banal: qual a nossa costumeira reação (no aspecto dos
sentimentos) quando assistimos a um programa cotidiano de notícias da TV sobre
o caos provocado pela guerra na Síria? Ou sobre o desespero e angústia dos
emigrantes de várias regiões africanas na busca da sobrevivência (a mera
sobrevivência)?
São, é claro, informações de
realidades distantes, com baixas implicações para a grande maioria de nós,
brasileiros. Mas representam um fenômeno preocupante, um traço dominante de
comportamento, alertado recentemente pelo Papa Francisco (sempre ele). A
anestesia que parece ter tomado conta do espírito generalizado da humanidade,
quando confrontado com a barbárie e os descalabros que teimam em perdurar, ano
após ano, nos atos de governo de alguns líderes mundiais.
Um dia desses, na coluna da
jornalista Ana Reis, do jornal O Globo,
constou uma citação sobre a mitologia celta: a deusa da guerra defendia que o
fim do mundo estaria próximo quando ocorressem, ao mesmo tempo, confusão das
estações climáticas, profunda corrupção dos homens, decadência das classes
sociais, violência e perversão dos costumes. Se esse prognóstico celta parece
atual, não é mera coincidência. E com preocupante similaridade, aí sim, com o
nosso Brasil. E com o agravante da lembrança do Papa Francisco: o risco de
nossa letargia diante da realidade.
É hora de promovermos,
individualmente, a reflexão sobre esse risco e o que fazer a respeito. Onde
está o nosso ponto de mutação, saindo da indiferença para algum tipo de ação
proativa?
Não se trata de defender
panfletagens ou arroubos rebeldes, mas sim de resgatar a saudável indignação
diante de contextos de negação dos princípios elementares da ética e do respeito
nas relações.
O
que a área e os dirigentes de recursos humanos têm a ver com isso? Tudo. Na
medida em que as crenças e valores que podem impulsionar o tal “ponto de
mutação” dos nossos comportamentos são parte de uma cultura organizacional a
ser revitalizada ou construída, com a influência determinante de recursos
humanos.