Definir tendências e impactos é um exercício de sensibilidade do
cenarista, nada mais
A leitura do mundo precede a leitura das palavras, já defendia o mestre Paulo Freire, um educador à frente do seu tempo. De fato, compreender o emaranhado de palavras estampadas todos os dias na mídia brasileira exige a leitura de um mundo novo para todos nós, brasileiros.
O rosário de denúncias de
corrupção deslavada, os processos judiciais e as ações continuadas da polícia,
tudo isso traz uma triste realidade: o vazio total de credibilidade da grande
maioria da classe política nos deixa quase na desesperança de encontrar
legitimidade em nossos representantes no Poder Legislativo e em boa parte do
Poder Executivo.
O que irá acontecer no futuro
imediato desse contexto? De que forma o cidadão comum terá um mínimo de
segurança na preservação das leis elementares da sociedade? É certo que existe
a contrapartida dessa inquietude, já que o Poder Judiciário, em várias de suas
instâncias, demonstra um forte estado de alerta na zeladoria do Estado de
Direito. Mas esse movimento ético terá musculatura suficiente para resistir no
tempo às forças do obscurantismo e aos senhores coronéis do poder estabelecido?
Derivando a análise para o
plano econômico, como reverter o espaço gritante de diferenciação das classes
sociais brasileiras, o ciclo perverso que segrega milhões de pessoas do consumo
básico de bens e serviços e do acesso a condições razoáveis de educação, saúde,
habitação e transporte urbano? A dinâmica econômica, quando reestabelecida em
patamares decentes, poderá romper a espiral do desemprego, criando oportunidades
dignas de trabalho e prosperidade?
Enfim, a lista de
questionamentos poderia continuar e amplificar nossa sensação de desamparo e
inquietude, mas é claro que esse estado de espírito não ajuda em nada a busca
de alternativas. O certo é perceber que essa leitura cáustica dos cenários deve
nos trazer a maturidade necessária para encarar a realidade e encontrar o
fôlego que possibilite superar o negativismo em fatos positivos que acontecem
na sociedade informal brasileira. Vários
movimentos associativos estão acontecendo nos setores empresariais, nos grupos
comunitários, nas organizações não governamentais, e por aí adiante. O ânimo
coletivo está acontecendo aqui e acolá, a despeito das dificuldades do
macrocontexto.
Com todas as pedras no caminho,
o futuro está sendo construído no dia a dia que não necessariamente é conhecido
e divulgado. Afinal, como diz o nosso brilhante cronista do cotidiano, Luis
Fernando Verissimo, “o futuro era muito melhor antigamente”...
O futuro, agora, é um desafio
de reconstrução. Para isso, é preciso estar atento e forte.