quinta-feira, 19 de maio de 2016

Início de conversa


1. Onde estamos?
A crise é desconfortável. Gera insegurança e inquietude. Mas também gera, inevitavelmente, mudança e movimento. Não existem posições empresariais ou profissionais que estejam imunes a seus efeitos. E, por isso mesmo, a crise nivela o desconforto….
A consequência é um estado de alerta compartilhado, uma espécie de código de sobrevivência não explicito, mas real. Todos nós já estamos cansados (na verdade, exaustos) das lamúrias e das análises catastróficas dos cenaristas de plantão.
E também desconfiamos cada vez mais dos simplistas da fé, aqueles que negam as dificuldades em nome de um Brasil “potencial”, aquele mesmo “gigante adormecido” do século passado, que ainda continua em estado letárgico, residindo em algum grotão desconhecido. Diante desse quadro, qual a saída? Os humoristas do saudoso Pasquim diriam que a única saída é o Aeroporto do Galeão…
Mas, piadas a parte, é urgente o resgate, em cada um de nós, de um núcleo de valores capaz de nos guiar na insegurança, no desconforto, na inquietude. É uma construção pessoal, mas, ao mesmo tempo, deve ser compartilhada, na esperança de estabelecer o tal código de sobrevivência já mencionado.
2. Para aonde vamos?
A série de artigos que hoje iniciamos, Liderar na crise, tem o pressuposto defendido no parágrafo anterior. Os autores são profissionais de consultoria com larga experiência na área de educação e gestão de pessoas, acumulando diversas práticas de desenvolvimento humano e organizacional. A intenção é agregar ideias, opiniões, conceitos e proposições, dentro de um foco especifico: o líder e o seu universo de influência e ação, num momento preocupante e crítico para as pessoas e organizações. O titulo desse bloco (Para aonde vamos?) é a âncora que dará sustentação à defesa de alternativas e hipóteses de desdobramento do chamado “Momento Brasil” para as dimensões de Liderança e Gestão.
Para aonde vamos com a perda quase completa das referências éticas nas relações do Poder Publico com a comunidade empresarial e com a própria sociedade? Para aonde vamos com o atraso histórico dos padrões de educação fundamental no Brasil? Para aonde vamos, numa dimensão oposta, com o sucesso do empreendedorismo dos jovens talentos das gerações Y e Z, criando um universo de possibilidades criativas? Para aonde vamos com a elevação da consciência politica das ruas, com os movimentos espontâneos e ordeiros?
Em síntese, para aonde vamos com esse novo Brasil que abre espaço para um novo modelo de liderança, pautado pelo sofrido aprendizado com as dificuldades que ainda nos atormentam?
3. Como vamos?
E afinal, se todos concordamos com a avaliação crítica do item 1 (Onde estamos?) e se nos enxergamos nos questionamentos do item 2 (Para aonde vamos?), podemos avançar para o bloco 3: Como vamos?
De que maneira definir prioridades, num contexto de incertezas e ambiguidades? Se eu sou um líder com uma posição intermediaria na hierarquia de uma empresa, como tomar decisões que afetam as pessoas e, muitas vezes, as colocam no desemprego e, mesmo assim, manter o comprometimento com a alta direção? Como mobilizar esforços para a melhoria de produtividade, a redução consistente de custos, a otimização de receitas? E tudo isso com o engajamento positivo das pessoas e equipes? Como me manter atualizado e com uma visão universal dos fatos, se minha agenda é tomada pelo aqui-e-agora, as ações táticas e operacionais do dia-a-dia?
Esses são exemplos de temas que iremos explorar nesta série especial. Esperamos contribuir com esses novos tempos de turbulência que, como já dissemos, traz inquietudes mas também podem trazer novas percepções, novos olhares e novos saberes.

MELHOR e o Instituto Vida e Carreira trazem a série de artigos Liderar na Crise com ideias, opiniões, conceitos e proposições, dentro de um foco especifico: o líder e o seu universo de influência e ação, num momento preocupante e crítico para as pessoas e organizações


Texto publicado originalmente no site da Revista Melhor em 12/05/2016

O Nexo e as Incertezas



"O plano de batalha costuma ser a primeira vítima da guerra"

O conhecido escritor de literatura de negócios Ram Charam recupera, em seu livro Crescimento lucrativo (HSM, 2014), a frase citada acima. A intenção é pontuar que a gestão de riscos e de imprevistos em ambientes de incerteza (como são os ambientes de guerra) é uma competência tão difícil quanto imprescindível.

Na verdade, mais do que nunca, o velho e bom plano B vem recuperando prestígio e espaço destacado nas reflexões gerenciais e nas tomadas de decisões das lideranças. As verdades definitivas e as estratégias infalíveis dos grandes planos perderam definitivamente o bonde da história. A demanda atual pede dos dirigentes a capacidade de desenvolver alternativas e contar com a criatividade para repensar as ações táticas empresariais.

Ter um plano B (ou vários deles, dependendo da complexidade e abrangência do portfólio de negócios) é condição essencial de permanência no mercado. Nesse sentido, é bastante pertinente a leitura do livro O Marketing na Era do Nexo – novos caminhos num mundo de múltiplas opções, de autoria da dupla de publicitários Walter Longo e José Luiz Tavares (Editora Best Seller, 2008). Embora bastante enfático na exploração de conexões entre o chamado nexialismo e o mundo do marketing, o livro aborda diversas questões que extrapolam as simples associações entre esses campos.

Um exemplo defendido pelos autores é a necessidade de as empresas fortalecerem as interações entre as metas e planos de negócios com a história organizacional, a construção da marca e da identidade, a defesa e a prática de princípios e valores. Tudo isso transportado para o posicionamento competitivo e para a proposta de valor da empresa. Parece, num primeiro olhar, algo abstrato ou genérico, mas é exatamente o que fez a rede americana de supermercados Whole Foods, um colosso de produtividade e crescimento no varejo que transpôs para a prática organizacional e os processos de trabalho uma cultura de propósitos, um conjunto de valores e crenças que vem dando singularidade e competitividade marcante para o negócio. O curioso é que essa “pegada” da rede Whole Foods foi se firmando com o tempo.   Não foi o plano inicial dos empreendedores, mas sim um caminho natural e evolutivo de afirmação cultural.

Isso é o que podemos chamar de um plano B inteligente e oportuno. Uma resposta diferenciada para um mundo complexo que pede uma dose de ousadia e consistência na guerra de mercados.


Moral da história: ter um plano B não significa necessariamente adotar uma ruptura feroz de estratégia, mas sim rever o foco, a partir de uma análise crítica do ambiente competitivo.  Afinal, o que esperam os clientes de uma empresa além da mera relação de troca entre produtos e serviços e a devida remuneração por essa oferta? Os clientes esperam nexo, sentido, propósito, algo além do óbvio. Um processo de relação empresa/mercado que, com o tempo, estabelece uma clara proposta de valor atraente e singular.

Um Suicídio do Cotidiano



A apatia não pode tomar o lugar da nossa indignação

Honoré de Balzac, escritor francês do século 19, criou a frase que dá título a este artigo. Com a agudeza de sua capacidade de observação sobre o comportamento humano, Balzac parece ter criado um alerta bastante propício para todos nós, que vivemos as agruras e os percalços de um ambiente econômico e político que saiu dos limites da normalidade.

Afinal, são tantas as pedras no caminho e tão necessária a reinvenção do modelo de governo no Brasil, que boa parte das pessoas vem perdendo a esperança. O risco de esse sentimento ser ampliado até o chamado “ponto de não retorno” é muito real. Em outras palavras, nossa indignação pode se transformar em apatia, o inconformismo ceder à desesperança.

É chegado o momento de perceber que podemos resgatar o poder de transformar nossa realidade, mesmo que a partir de um microcosmo de vida e trabalho. Cada um de nós tem a possibilidade de agir num ponto de mutação, capaz de gerar movimentos positivos e ampliados de adesão e engajamento.

São de comprovada eficiência os canais eletrônicos, o enorme potencial das redes de conexão na internet, a resposta imediata de um chamamento para a ação coletiva de pessoas e de instituições. Qual seria a bandeira para esse movimento? São muitas, desde o resgate da ética no meio político e empresarial, a falta de transparência dos gestores da coisa pública, o escárnio dos corruptos de plantão, que criam verdadeiras máfias de apropriação de recursos que, em última instância, são seus, são nossos. Não é possível que todo esse ambiente de desmandos crie em nós comportamento de impotência.

Por onde começar a transformação da realidade? A letargia diante das circunstâncias é um processo de contaminação, muitas vezes não percebido pelo contagiado. Assim:

  • Recupere a autocrítica e localize o fio da meada do seu desencanto: em que situação você se percebeu fragilizado?
  • Analise a situação anterior e defina o contexto: sua desmotivação é suficiente para a sua desmobilização?
  • Ou é possível admitir que na vida há marchas e contramarchas, avanços e dificuldades, forças e vulnerabilidades?
  • O ser humano é, essencialmente, movido por crenças e princípios. Fuja da famosa frase do humorista Groucho Marx: “Eis aqui os meus princípios. Se não gostarem, tenho outros”. Ironia não ajuda em nada a revitalização do seu ânimo.
  • Aliás, a raiz da palavra ânimo tem a ver com alma, você com você mesmo. Esse, sim, é um bom começo para a volta por cima.
  • Recompor suas crenças e perceber que o movimento de mudança começa em você mesmo.
  • Nada é durável, a não ser que seja incessantemente renovado, já dizia Charles de Gaulle (ex-presidente da França).