O Brasil é o mais antigo país do futuro em todo o mundo
Millôr Fernandes, com seu humor
certeiro, criou a frase que compõe a linha abaixo do título. Parece uma piada
repetitiva, mas o paradoxo da produtividade é o nosso eterno calcanhar de Aquiles
no contexto global. O aparente paradoxo é que diversos grupos empresariais
estão indo além de nossas fronteiras e ganham novas posições e competências
globais. Mas a baixa produtividade teima em perdurar na maioria dos setores
econômicos, configurando um enigma de como transformar esse estado de
coisas. Se focarmos as atividades e
serviços do setor público, aí sim esse cenário é devastador. Em algumas obras
públicas, dezenas de trabalhadores agem de forma inercial, enquanto poucos
abnegados tentam fazer algo produtivo. Parece um teatro do absurdo, algo
praticamente inexistente em qualquer país europeu ou em boa parte das Américas.
O que passa pela cabeça do
trabalhador brasileiro com esse perfil?
Que o espírito da indolência dá conta do recado em termos de resultados
do seu trabalho? Ou o que falta é uma ação objetiva e assertiva das lideranças
para a tomada de consciência da força de trabalho de que esse comportamento é
um “tiro no pé”?
É claro que as raízes da baixa
produtividade não são exclusivas desse tipo de comportamento preguiçoso. A
maior parte dessas mazelas tem a ver com o chamado “custo Brasil”, um círculo
vicioso de péssimas condições de infraestrutura, déficits educacionais
históricos, custos fiscais e tributários desproporcionais à contrapartida de benefícios,
descuidos em investimentos na inovação e a desqualificação do trabalhador médio
brasileiro.
Esse quadro explica a posição
rotineira do Brasil no ranking mundial da produtividade. É humilhante a
comparação com os Estados Unidos: são necessários quatro trabalhadores
brasileiros para dar conta do que produz um único trabalhador americano.
A realidade é que ignoramos a
frase do Prêmio Nobel de Economia, Paul Krugman, quando diz que “produtividade
não é tudo, mas no longo prazo é quase tudo”.
O Instituto Brasileiro de
Economia, da Fundação Getúlio Vargas, divulgou recentemente um estudo sobre o
tema da produtividade, que merece ser lido. Estamos longe de generalizar a
conclusão de que somos o “patinho feio” da eficiência produtiva. Mas os números
negativos configuram um sinal de alarme: é urgente que acionemos a famosa
capacidade brasileira de virar o jogo, independentemente das condições do campo
e da competência do juiz. O nosso espírito de autodeterminação, a vontade
transformada em iniciativas, as dificuldades encaradas como um desafio de
superação, tudo isso deve conjugar para um movimento articulado de
mudança.
É o momento do tal “país do
futuro” provar que o nosso tempo imediato é o aqui e agora. E que nós, líderes
de pessoas e de processos, podemos fazer o nosso ponto da virada.