No artigo anterior, pontuamos alguns aspectos
de similaridade entre o mundo do futebol e a formulação estratégica das
empresas. A partir do que assumimos como um conceito básico de Estratégia
Empresarial (“onde jogar e como ganhar”) fizemos, naquela ocasião, alguns
paralelos com a necessidade premente de os negócios construírem um posicionamento
competitivo sustentável.
Nesse raciocínio, a definição de “onde jogar”
exige o uso da inteligência analítica dos mercados e suas configurações. Assim
como o desafio do “como ganhar” requer que as empresas saiam do lugar-comum,
das táticas já conhecidas e exauridas. Um novo pensar e agir pode ser o modelo
tentativo forte o suficiente para virar o jogo, a exemplo do que fazem os
grandes times de futebol, no Brasil e no mundo. O movimento Game Changers,
nascido recentemente nos EUA e já contando com mais de 200 empresas, pode dar
as pistas dessa virada de jogo.
A ideia central é fundamentada numa
metodologia de autoavaliação das empresas, com base em critérios relacionados,
dentre outros, à cultura organizacional, às práticas de mercado, atenção aos
aspectos de gestão de pessoas, adoção dos princípios de sustentabilidade. A
condição que permeia todo o julgamento da empresa para se definir como uma Game
Changer é a sua orientação para um
propósito, o que vai além (muito além, aliás) da geração do lucro e das
conquistas de market share.
Essa orientação para um propósito pode ser
tangenciada pela capacidade da organização de traduzir em práticas efetivas os
enunciados da sua missão empresarial. Esse requisito é bastante crítico, a
partir das constatações da inoperância de muitas missões empresariais que
encontram baixíssimo respaldo na realidade. Os Games Changers não correm o risco de desgastar suas declarações de
propósito com enunciados pomposos, mas desprovidos de veracidade. Essa premissa
é, portanto, o pré-requisito de entrada para a consciência e criação de valor
compartilhado das empresas que estão virando o jogo. Trata-se de um novo modelo
de organização para a chamada nova economia, construindo relações equilibradas
com a sociedade, a força de trabalho e o conjunto de stakeholders do negócio.
Iniciativas com esse mesmo espírito já estão
ativas aqui no Brasil. É o caso do Capitalismo Consciente, abordagem inspirada
nos autores do livro (com o mesmo título) John Mackey e Raj Sisodia. Como diz
na apresentação do livro o jornalista do Washington
Times, Anthony Sadar, “no mundo dos negócios não é preciso ser vilão para
chegar na frente - muitas vezes os ‘caras legais’ vencem a corrida”.
Fica evidenciado o alinhamento, similaridade
e sintonia entre as duas correntes - Capitalismo Consciente e Game Changers. A próxima etapa é dar
visibilidade e capilaridade a essa rede de pensamento, abrindo as frentes de
configuração de uma nova ordem empresarial.