Dossiê Storytelling
O ouvinte atual quer editar
Antes de se
debruçar sobre uma história, é necessário colocar-se na pele do ouvinte. Hoje,
ele navega com naturalidade pela internet, entre publicações online, redes
sociais e sites corporativos. Está acostumado a desempenhar papel ativo em sua
relação com as demais pessoas e também como consumidor. Sabe que tem canais
para expressar suas opiniões - sobre o mundo dos negócios ou sobre algo fora
dele -, que pode se tornar seguidor de um produto ou personagem público e
abandoná-lo mais adiante. E gosta de fazer isso.
A internet
oferece uma quantidade ilimitada de informações, as quais, se bem utilizadas,
podem deixar a descoberto as estratégias de uma companhia. Isso é amplificado
pelo fato de os dispositivos móveis nos permitirem estar sempre conectados e
transportar nossa experiência de web praticamente a qualquer lugar em que
estejamos.
A firma de
consultoria Latitude fez uma pesquisa de campo em 2012 para saber o que os
usuários de todo o mundo esperam das narrativas e como gostariam de
experimentá-las. Na primeira entrega de resultados, um relatório intitulado The Future of Storytelling identificou
tendências e atitudes da audiência sobre o conteúdo desses relatos e fez
recomendações para narradores do futuro:
• Criar uma experiência que permita ao
usuário mergulhar no conteúdo em várias mídias, apelando a seus múltiplos
sentidos.
• Permitir à pessoa que faça parte da
narrativa, interagindo com ela.
• Garantir que haja coerência entre a
narrativa e os diferentes pontos de contato dos consumidores com os produtos e
serviços.
À medida que a
web se torna mais interativa e ubíqua, os usuários querem aumentar o controle
sobre suas experiências individuais e os conteúdos das diversas histórias às
quais estão expostos no dia a dia.
Assim, para
ser perfeita, uma história tem de satisfazer as necessidades de informação
básicas instantaneamente (por exemplo, obter contexto cultural e histórico de
um lugar ou personagem) e permitir que o usuário, onde quer que se encontre, possa
editá-la e dar-lhe um novo significado.
(Re)Aprenda a contar Histórias
por Robert McKee
Todas as
pessoas são, em alguma medida, contadoras de história natas - ou foram, até que
isso lhes foi arrancado. Toda criança conta e adora histórias. As histórias se
encaixam perfeitamente na mente humana; a narrativa é a forma como a mente
interpreta a realidade.
Pense em como
uma pessoa relembra seu passado: é como uma série de estatísticas? Não, ela
volta, pega os fatos principais, elimina tudo que é banal e concentra esses
eventos em uma história, a que chama de memória.
A mente faz
isso naturalmente. Se consegue se lembrar, você consegue contar uma história,
porque sua mente contou a história para você.
Como você
tenta imaginar o futuro? Também como uma história. Todo ser humano é capaz de
pensar: “Se eu fizer isso, vou arrumar encrenca, mas, se eu fizer aquilo, tudo
bem”. Todo mundo é capaz de pensar no formato história. Então, isso é natural.
Na escola
arrancaram isso de você, querendo que execute tarefas e memorize dados. Treinam
o aluno a pensar e se expressar retoricamente, com argumentos indutivos ou
dedutivos. Eu sugeriria a quem são se sente um contador de histórias nato que
se lembre de quando era criança. E conscientize-se: você conta histórias para
si mesmo todos os dias, seja pensando no passado, seja olhando para o futuro.
Se deixaram esse contador de histórias ir embora, você pode trazê-lo de volta.
Contar
histórias passa também por falar em público, o que as pessoas costumam fazer
apoiadas em uma apresentação em PowerPoint, que as conduz passo a passo. Então,
o problema real pode ser outro: não é que você não sabe contar uma história, e
sim que não consegue improvisar. Para ser um storyteller, realmente é preciso
ser capaz de improvisar. Isso exige coragem, mas, sobretudo, prática.
Falar em
público é um exercício como outro qualquer - nadar, correr, jogar tênis. Você
tem de aprender a improvisar de pé. A melhor maneira de começar, entre as que
conheço, é ter um pequeno público caseiro, como a esposa ou um grande amigo.
Você ensaia e pratica diante dele. Atores que interpretam Shakespeare não
entram no palco na noite da estreia e saem falando, sabia? Eles ensaiam por 12
semanas. E têm Shakespeare ao lado deles, enquanto você não tem.
A prova de
fogo são as crianças e jovens. Se conseguiu atrair a atenção da esposa e do
amigo, talvez seja porque eles querem lhe agradar, mas, se atrair a atenção de
seus filhos, aí já existe algum avanço. Se captar a atenção de uma criança de
seis anos, então pode comemorar a valer! Ela tem a amplitude de atenção de um
mosquito. Sente-a a seu lado e diga: “Vou te contar uma história”. Se essa
criança ficar um pouco sentada, parabéns!
Fonte: HSM Management - julho/agosto 2013