Domenico De Masi, italiano e também cidadão honorário do Rio
de Janeiro, ficou famoso pela autoria do livro O ócio criativo (2000). Agora,
publica outra obra igualmente instigante: O
futuro chegou - modelos de vida para uma sociedade desorientada.
Recuperando informações e reflexões sobre os modelos sociais e religiosos, as
estruturas políticas e econômicas e, principalmente, os sistemas de vida da
Índia, China e Japão, além do Brasil, com um denso capítulo de 87 páginas.
Segundo De Masi, o livro deveria propor um novo modelo de
vida para uma sociedade desorientada, mas vai além ao enumerar a riqueza da
história das nações e como o homem já enfrentou (e muitas vezes venceu)
dificuldades aparentemente insuperáveis, guerras e dissidências insanas, para
renascer logo adiante. Citando Lourenço, o Magnífico: “Como é bela a juventude,
que todavia se esvai. Quem quiser ser feliz, que o seja. Do amanhã não se tem
certeza”. E é esse amanhã que De Masi tenta desmitificar - pelo excesso de
pessimismo -, mas também alertar, pela incapacidade de assumirmos o papel de
protagonistas e não de vítimas.
Num dos trechos do livro, De Masi expõe a desorientação dos
indivíduos diante do progresso da tecnologia, submetendo o homem a um aparente
paradoxo: de um lado a ampliação de recursos de conhecimentos que a tecnologia
favorece; de outro a inquietação sobre os próximos estágios do progresso
tecnológico, a ponto de sermos induzidos a “desconfiar do futuro”.
De Masi chama de “eternos desafios” a nossa espera constante
do vento favorável, quando, muitas vezes, não sabemos com clareza para onde
ir... E provoca: “Sentimos crescer, dentro de nós, a exigência de um novo
modelo de vida capaz de orientar o progresso cada vez mais insensato. Mas a
quem cabe o ônus de elaborar esse novo modelo?”
“Nutre a mente somente o que a alegra”, ensina Santo
Agostinho, abrindo o capítulo do livro dedicado ao Modelo Brasileiro. Eterno
país do futuro, o Brasil é interpretado com boa vontade duvidosa, de tão
generosa. De Masi chegou a morar no Rio de Janeiro no período em que escreveu
este livro. Esses pormenores não reduzem, entretanto, a riqueza da pesquisa
histórica e os personagens retratados.
O trecho a seguir demonstra o exagero de interpretação: “O
brasileiro é informal, trabalha em mangas de camisa e sabe operar em grupo. É
fluido nos seus processos de decisão, não tem preconceitos ideológicos, aprende
fazendo, tende a conjugar trabalho e divertimento, presta serviços de modo
atento, afável e afetuoso”. Parece outro país, não é? Mas talvez seja a
percepção de um intelectual sempre adulado e bem acompanhado quando está por
aqui.
O importante é que há, no livro, um enorme e respeitoso
levantamento de registros históricos. E fica, ao final, um trecho do poema
Testamento, do grego Kriton Athanasoulis:
“Te deixo a minha história escrita à mão, a partir de alguma
esperança. Cabe a ti terminá-la... Assim foi meu tempo. Lança um olhar doce ao
nosso crepúsculo amargo... Eu conquistei a coragem de ser feroz. Esforça-te
para viver. Salta o fosso sozinho e sê livre...”.