Incompreendidos ou
Superestimados? Desafios e clichês vinculados aos Y
Em recente debate com
profissionais de Recursos Humanos, surgiu a recorrente discussão sobre o
fenômeno que recebeu o rótulo de Geração Y. Esse assunto vem sendo abordado há
uns três ou quatro anos. No entanto, qualquer debate sobre o tema parece mais
do mesmo, opiniões requentadas, um verdadeiro disco furado, tocando uma música
antiga, um rock dos anos 50.
Uma legião de debatedores
defende a oxigenação dos ambientes empresariais que esses jovens ansiosos e
criativos acabaram forçando. Por essa abordagem, o efeito dos Y é altamente
benéfico porque cria desconforto na burocracia modorrenta das empresas e
provoca a retirada dos baby boomers e da geração X das suas zonas de conforto.
Os jovens Y são verdadeiros agentes de mudança, surrupiando um papel que nós,
profissionais do RH, sempre clamamos aos céus empresariais que deveria ser
nosso. Mas dormimos no ponto e a bandeira da mudança trocou de porta-bandeira.
Outro segmento tem opinião
diferente e classifica os Y como impacientes e precipitados na ânsia de
progressão rápida da carreira, que não temem mudar de empresa quando não são
atendidos em sua velocidade de aspirações, e daí por diante.
Onde está a razão? Nem lá, nem
cá... Os jovens representam um fato novo no mundo corporativo, já acostumado a
chamá-los de estagiários e a não ter peso na consciência em confiná-los na
máquina de xerox ou em serviços operacionais de baixa relevância.
O cenário começou a mudar
quando aconteceu o boom dos programas de trainees, há cerca de 25 anos, com o
processo de seleção hiper-rigoroso e a classificação dos talentos que
estabeleceriam um novo patamar de relações nas organizações, entre os veteranos
e a mocidade. Com essa mudança rápida, as políticas, diretrizes e o modelo
mental das corporações não tiveram tempo para absorver o impacto e dar
respostas conciliatórias a esse movimento.
Sobram razões para a defesa da
tese de que os jovens, rebeldes sem causa aparente, chacoalham os ambientes acomodados
das organizações. Mas também faz sentido o “pé-atrás” com a glamourização
excessiva desse movimento, colocando os Y em um papel que nem eles próprios têm
consciência e competência para desempenhar.
Algumas vezes presenciamos
decisões precoces das organizações. A consequência, não raro, é uma decepção
tão intensa quanto a empolgação com o brilho aparente do jovem talento. A
prudência recomenda dar tempo ao tempo. Dar oportunidade de carreira à Geração
Y, sem esquecer que capacidade de trabalho e competência de liderar são
atributos complexos que requerem uma dose razoável de experiência, o direito de
ousar e errar, a maturidade que não precisa ter relação direta com a idade
cronológica, mas com a prontidão dos profissionais que aprendem a lidar com as
adversidades. Vamos aprender a conviver com a geração Y e tudo de bom que ela
representa. Mas vamos, também, aprender a excluir os excessos e os clichês que
acompanham esse movimento.