quinta-feira, 22 de maio de 2014

Drops Gerenciais na Melhor




Walter White, inicialmente, é um personagem corriqueiro, um lugar-comum de cidadão honesto, dedicado e ordeiro. Professor de Química de uma escola de ensino médio em Albuquerque, no Novo México, Estados Unidos, Walt descobre repentinamente que tem um câncer terminal. E a coisa não para por aí: como se não bastasse a triste notícia, ele percebe que tem de dar conta dos altos custos do tratamento do câncer.

Esse começo de roteiro, aliado ao fato de Walt ter um filho adolescente que teve paralisia cerebral no nascimento, dá o tom de uma série de TV, vencedora do mais recente prêmio Globo de Ouro. A série é, também, muito interessante para extrair lições conectadas ao desafio de gerenciar e entender o comportamento das pessoas em situações de extrema pressão e, particularmente para os líderes, provocar a inquietação de como lidar com as mutações repentinas de estilo e humor das pessoas no trabalho.

Breaking Bad é uma expressão que pode ser traduzida por “ficando pior” ou “chutando o balde”, na gíria, e que se aplica ao personagem Walter White (nome curiosamente próximo do chamado “poeta da América”, Walt Whitman morto em 1892 e que além de acompanhar o personagem principal ao longo de toda a série é a chave para o desfecho das 5 temporadas).

Quebrando a regularidade dos seus padrões de conduta, Walt (o personagem), num determinado momento da série, se transfigura e entra num jogo perigoso com traficantes da pesada, montando um laboratório para “cozinhar” a droga e assim garantir renda e o futuro de sua família. Sua vida, é claro, dá algumas cambalhotas e, a cada contexto de mudança e aumento de pressão, o personagem faz jus ao título da série (“ficando pior” e “chutando o balde”).

“O homem é o homem e suas circunstâncias”, já dizia Ortega y Gasset. É sempre bom lembrar que a assim chamada normalidade de conduta é uma fotografia, um instantâneo, que pode ser alterada ao sabor das circunstâncias, gerando uma nova conduta, ditada por um novo (e inesperado) caráter.

As mutações de perfil, crenças e comportamentos são, muitas vezes, provocadas por situações inusitadas, repentinas e carregadas de estresse. E não há nenhuma “receita de bolo” que ajude qualquer pessoa a lidar com as consequências dessas mudanças. Fazendo um paralelo com o mundo corporativo, é uma questão de sensibilidade e de muita habilidade do líder, ou gestor, para a compreensão do contexto e ações decorrentes.

O fundamental para a ação do líder é entender que o caráter (“conjunto de traços psicológicos e morais que caracterizam um indivíduo”, segundo Houaiss) não tem um “modelito” possível. Ao contrário, o ser humano é imensamente complexo e desconhecido, até que apareçam os contextos de extrema pressão para que ele se revele.

Nesses momentos, pode submergir um “Walter White” inesperado, fora de todos os padrões de regularidade de um cidadão comum...


A inquietação final pode ser resumida numa pergunta: Quantos Walter Whites existirão por aí, nos ambientes empresariais?

Nenhum comentário:

Postar um comentário