Walter White, inicialmente, é um personagem
corriqueiro, um lugar-comum de cidadão honesto, dedicado e ordeiro. Professor
de Química de uma escola de ensino médio em Albuquerque, no Novo México,
Estados Unidos, Walt descobre repentinamente que tem um câncer terminal. E a
coisa não para por aí: como se não bastasse a triste notícia, ele percebe que
tem de dar conta dos altos custos do tratamento do câncer.
Esse começo de roteiro, aliado ao fato de Walt ter um
filho adolescente que teve paralisia cerebral no nascimento, dá o tom de uma
série de TV, vencedora do mais recente prêmio Globo de Ouro. A série é, também,
muito interessante para extrair lições conectadas ao desafio de gerenciar e
entender o comportamento das pessoas em situações de extrema pressão e,
particularmente para os líderes, provocar a inquietação de como lidar com as
mutações repentinas de estilo e humor das pessoas no trabalho.
Breaking Bad é
uma expressão que pode ser traduzida por “ficando pior” ou “chutando o balde”,
na gíria, e que se aplica ao personagem Walter White (nome curiosamente próximo
do chamado “poeta da América”, Walt Whitman morto em 1892 e que além de
acompanhar o personagem principal ao longo de toda a série é a chave para o
desfecho das 5 temporadas).
Quebrando a regularidade dos seus padrões de conduta,
Walt (o personagem), num determinado momento da série, se transfigura e entra
num jogo perigoso com traficantes da pesada, montando um laboratório para
“cozinhar” a droga e assim garantir renda e o futuro de sua família. Sua vida,
é claro, dá algumas cambalhotas e, a cada contexto de mudança e aumento de
pressão, o personagem faz jus ao título da série (“ficando pior” e “chutando o
balde”).
“O homem é o homem e suas circunstâncias”, já dizia
Ortega y Gasset. É sempre bom lembrar que a assim chamada normalidade de
conduta é uma fotografia, um instantâneo, que pode ser alterada ao sabor das
circunstâncias, gerando uma nova conduta, ditada por um novo (e inesperado) caráter.
As mutações de perfil, crenças e comportamentos são,
muitas vezes, provocadas por situações inusitadas, repentinas e carregadas de estresse.
E não há nenhuma “receita de bolo” que ajude qualquer pessoa a lidar com as consequências
dessas mudanças. Fazendo um paralelo com o mundo corporativo, é uma questão de
sensibilidade e de muita habilidade do líder, ou gestor, para a compreensão do
contexto e ações decorrentes.
O fundamental para a ação do líder é entender que o
caráter (“conjunto de traços psicológicos e morais que caracterizam um
indivíduo”, segundo Houaiss) não tem um “modelito” possível. Ao contrário, o
ser humano é imensamente complexo e desconhecido, até que apareçam os contextos
de extrema pressão para que ele se revele.
Nesses momentos, pode submergir um “Walter White”
inesperado, fora de todos os padrões de regularidade de um cidadão comum...
A inquietação final pode ser resumida numa pergunta:
Quantos Walter Whites existirão por aí, nos ambientes empresariais?
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