Não há espaço para mudanças tão
radicais: o capitalismo continua existindo para gerar lucro nas empresas e
ampliar as oportunidades de consumo às pessoas. Mas, segundo os autores
franceses Gilles Lipovetsky e Jean Serroy (A estetização do mundo - viver na era
do capitalismo artista, da Companhia das Letras), o capitalismo vem suavizando
crescentemente a sua “pegada” comercial, assumindo um papel de zelo pelo bom
gosto e de guardião da estética.
Não por uma escolha pessoal dos
capitalistas, mas sim pelo hiperindividualismo do consumidor moderno. A
tecnologia de produção, os produtos e serviços estão ganhando glamour e
requinte estético que geram verdadeiras experiências artísticas.
É por esse fenômeno que o Bon
Marché (loja de varejo de luxo de Paris) realiza fantásticos fashion shows a
cada temporada. Os museus e galerias promovem exposições que abordam todas as
formas de arte e abreviam cada vez mais os períodos de vigências dessas
exposições. A ordem é criar constantemente um novo espírito da arte, que chame
a atenção e gere filas intermináveis.
Segundo os autores, esse ciclo
de comportamentos é amplo e diversificado. Relógios, celulares, canetas,
automóveis, carrocerias de caminhões e ônibus, enfim, um enorme leque de itens
e produtos passam por um “banho” estético que competem entre si pela
originalidade e impacto visual. “Nossos carros são verdadeiros objetos de arte”
é um dos slogans da Mercedes-Benz. As marcas de luxo - Prada, Cartier, Chanel -
ampliam suas aplicabilidades em dezenas de produtos, democratizando um acesso
de consumo antes restrito a poucos (e ricos).
A chamada arte comercial, desta
forma, chega à hotelaria, à comida, aos food trucks e às redes de hotéis de
charme. A arte se torna um instrumento de legitimação das marcas e das empresas
do capitalismo. O que esse movimento tem a ver com recursos humanos e gestão de
pessoas? Tem muito a ver, na medida em que representa uma mudança de cultura de
massa, uma nova ordem estética e um forte anseio das pessoas (consumidores)
pelo estilo, pelo embelezamento, pela leveza.
Nesse movimento, surge uma boa
e intrigante pergunta: como vamos adaptar nossas ações, produtos e serviços a
essa nova “estetização da vida” sem perder a consistência, seriedade de
princípios e valores fundamentais do nosso papel? Seremos capazes de glamorizar
nossas ações de treinamento e desenvolvimento, tornar mais atraentes nossos
projetos, adotar uma linguagem moderna e impactante? Ou ficaremos presos aos
velhos e cansativos clichês, aos PowerPoint com ilustrações hipermanjadas da
internet e aos eventos discursivos e sonolentos?
Estamos em um novo tempo, o da
estetização do mundo. Não é mais uma tendência, é um fato inegável a
necessidade de mudar o formato, inovar sem radicalizar, conquistar a atenção
sem banalizar a mensagem. Difícil? Claro. Não é à toa que são artistas aqueles
que estão criando esse novo mundo.
Que tal despertarmos a arte que
pode estar submersa em cada um de nós? No próximo artigo daremos algumas dicas
e exemplos práticos nesse caminho.
A tese é provocante! Estamos mesmo nos tornando mais sensíveis à arte pela ação do capitalismo? O contrário também se dá: na música, por exemplo, cada vez mais gente se amarra em puro llixo, achando que está ligada em arte -- ao ponto de Chico Buarque ter declarado, tempos atrás, com razão, que "a canção acabou, não existe mais"... Por outro lado, que essa "injeção" cada vez mais clara de arte nos produtos e serviços tende a levar à sua injeção também nos produtos educacionais na empresa não há dúvida, pois também estes são produtos e serviços, afinal de contas. Mas, como isso melhorará nossa vida? Qual é o papel da arte na produção de melhores cidadãos -- e melhores trabalhadores? São questões...
ResponderExcluir