A defesa e a argumentação na busca de um ponto de equilíbrio
entre as dimensões de vida e carreira é tese recorrente dos estudiosos do tema.
Recentemente, porém, um interlocutor de nossas relações -
profissional experiente do mundo corporativo -, trouxe para o debate numa
mesa-redonda uma provocação no sentido contrário: todos os indivíduos
bem-sucedidos são, de alguma forma, desequilibrados.
Na percepção do nosso “provocador”, é estar no fio da
navalha - onde trafegam os inquietos e desajustados -, a condição básica e a
vitamina que impulsionam o êxito e as conquistas em qualquer campo pessoal e de
atividade profissional.
Por esse ângulo, os grandes cineastas (Woody Allen ou
Almodóvar, por exemplo) os artistas notáveis (Picasso, na pintura, Billie
Holiday e Chet Baker, na música, e outros, vivos ou não) seriam geniais não só
por seu talento diferenciado, como também por seus desajustes e inquietações.
Em outras palavras, pelo desequilíbrio, quase constante.
Os argumentos históricos e a pesquisa bibliográfica de
vários personagens indicam, de fato, a procedência da citada provocação. O
difícil é aceitar a generalização da tese. Afinal, não temos todas as
informações sobre o caminho de compensação desses personagens nos seus
desequilíbrios. A partir da premissa que todo desequilíbrio demanda a volta ao
equilíbrio original, até para dar um certo “refresco” aos inquietos
personagens.
Mas, voltando aos desequilibrados, será que o estilo de vida
por eles adotado será sempre o de exaustão? Numa frenética busca de algo que
eles próprios muitas vezes não sabem definir? Ou eles convivem com os
sentimentos de impulso para a ação e, ao mesmo tempo, a sensação de vazio
existencial pela falta de um propósito maior? Um significado essencial? Um rol
de pessoas e coisas queridas com as quais se preocupar?
As respostas remetem à sabedoria de um H. L. Mencken: Para
cada problema complexo, há uma solução que é simples, elegante e errada.
A complexidade pressupõe o convívio com a dualidade, a
tolerância com as ambiguidades, a opção pelo sim pela raridade da escolha do
não definitivo. Nesse aspecto é que volta à cena o valor do equilíbrio entre
vida e carreira.
Diferentemente de nosso assertivo interlocutor, nós
acreditamos ser essencial a atitude de prestar atenção ao seu papel
profissional, mas também - ou principalmente -, à sua identidade de crenças e
valores, ao seu circuito de relacionamentos, ao prazer do ócio e do tempo
livre, dentre outros aspectos.
Os desequilibrados (vitoriosos ou não) que nos desculpem,
mas o eixo da vida que vale a pena ser vivida demanda, sim, a busca do
equilíbrio, mesmo que convivendo com muitos momentos de inquietação e
desequilíbrios. Talvez seja exatamente esse ponto de equilíbrio a essência que
todos nós buscamos no dia a dia, muitas vezes sem a percepção clara dessa
busca.
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